Ressuscita-me?
Pr. Ciro Zibordi, da Assembleia de Deus, em seu ‘ Blog do Ciro’ |
Adianto que esta abordagem respeita a licença poética,
mas prioriza a Palavra de Deus (1 Co 4.6; At 17.10,11; Gl 1.6-8). Afinal, como
crentes espirituais, devemos discernir bem tudo (canções, pregações, profecias,
milagres, manifestações, etc.), a fim de retermos somente o que é bom (1 Co
2.15; 1 Ts 5.21).
“Mestre, eu preciso de um milagre. Transforma minha vida,
meu estado. Faz tempo que eu não vejo a luz do dia. Estão tentando sepultar
minha alegria, tentando ver meus sonhos cancelados”. Não vejo problemas no
início da composição em análise, visto que todos nós, mesmo salvos, passamos
por momentos difíceis em que nos sentimos perseguidos, isolados, como que
presos em um lugar escuro, sufocante, “no vale da sombra da morte” (Sl 23.4).
Nessas circunstâncias, é evidente que ansiamos por um grande milagre.
“Lázaro ouviu a sua voz, quando aquela pedra removeu.
Depois de quatro dias ele reviveu”. Aqui, como se vê, a construção frasal não
ficou boa. Quem removeu a pedra? Com base na licença poética, prefiro acreditar
que o compositor referiu-se aos homens que removeram a pedra, naquela ocasião
(Jo 11.39-41), haja vista Lázaro, morto e amarrado, não ter a mínima condição
de fazer isso — segundo os historiadores, aquela pedra pesava cerca de quatro
toneladas.
A oração cantada prossegue: “Mestre, não há outro que
possa fazer aquilo que só o teu nome tem todo poder. Eu preciso tanto de um
milagre”. Algum problema, aqui? Não.
“Remove a minha pedra, me chama pelo nome”. Os problemas
começam aqui. Se o compositor tomou a ressurreição de Lázaro como exemplo,
deveria ter sido fiel à narrativa bíblica. É claro que Deus remove pedras
grandes, como ocorreu na ressurreição do Senhor Jesus (Mc 16.1-4). Mas, no caso
de Lázaro, quem tirou a pedra foram os homens, e não Deus (Jo 11.41)!
Aprendemos lições diferentes com as circunstâncias que
envolveram as aludidas ressurreições. Fazendo uma aplicação espiritual, há
algumas pedras que Deus remove (como na ressurreição de Jesus), mas há outras
que o ser humano deve revolver (como na ressurreição de Lázaro). Em outras
palavras, Deus faz a parte dEle, e nós devemos fazer a nossa (Tg 4.8; 2 Cr
7.13,14).
“Muda a minha história. Ressuscita os meus sonhos.
Transforma a minha vida, me faz um milagre, me toca nessa hora, me chama para
fora”. Clichês comerciais e antropocêntricos não podem faltar em gospel hits:
“muda a minha história”, “sonhos”, etc. Como já falei muito sobre esse desvio
em meu livro Erros que os Adoradores Devem Evitar, evitarei ser ainda mais
“antipático”. Mas é importante que os compositores cristãos aprendam que os
hinos devem ser prioritariamente cristocêntricos.
“Ressuscita-me”. Aqui vejo a principal incongruência do
cântico, a qual não pode ser creditada à licença poética. Pedir a Deus:
“ressuscita os meus sonhos”, no sentido de que eu me lembre das suas promessas
e volte a “sonhar”, a ter esperança, a aspirar por dias melhores, etc. — a
despeito do que afirmei sobre o antropocentrismo —, até que é aceitável. Mas
não posso concordar com a súplica: “Ressuscita-me”. Por quê? Porque o salvo em
Cristo já ressuscitou, espiritualmente, e não precisa ressuscitar de novo!
Quer dizer, então, que a aplicação feita pelo compositor
é contraditória? Sim, pois, em Colossenses 3.1, está escrito: “se já
ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está
assentado à destra de Deus”. O que é o novo nascimento? Implica morte para o
pecado (Cl 3.3) e ressurreição para uma nova vida (Rm 6.4). Essa analogia da
nossa preciosa salvação — pela qual temos a certeza de que estamos mortos para
o pecado e já ressuscitamos para o nosso Deus — não pode ser posta em dúvida
para atender a anseios antropocêntricos. Por isso, a oração “Ressuscita-me” se
torna, no mínimo, despropositada.
Alguém poderá argumentar: “Ora, a Bíblia não diz, em 1
Coríntios 15, que vamos ressuscitar? Por que seria errado pedir isso para
Deus?” Bem, o sentido da ressurreição, no aludido texto paulino, é
completamente diferente do mencionado na composição em apreço. Paulo referiu-se
à ressurreição literal daqueles que morrerem salvos, em Cristo (vv.51-55; 1 Ts
4.16,17). Hoje, em vida, não esperamos ser ressuscitados, pois já nos
consideramos “como mortos para o pecado, mas vivos para Deus em Cristo Jesus
nosso Senhor” (Rm 6.11).
Amém?
Ciro Sanches Zibordi- - Terça-feira, 1 de novembro de
2011-
COMPROMISSO COM A PALAVRA DE DEUS E COM O DEUS DA PALAVRA
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